

Priscila Lopes
Talvez, muito provavelmente, escritora.
A sala
Há em mim uma sala abandonada
onde a poeira se sobressai, as luminárias
pendentes do absurdo, equilibram-se
para manter tudo como está: paredes
de um silêncio ruidoso pulverizam
de hora em hora o que não me deixa entrar;
perde-se entre galerias, a sala,
coberta por tapetes Savonnerie, sobrevive
como um órgão vital quase sem fôlego
que projetasse na maca seus últimos suspiros
não por vontade própria, por piedadea alheia
a sala conduz o visitante para cada um dos lados
por uma porta, e cada porta tem uma cor
de morte diferente, podendo ser mais fúnebre
ou mais aguardada, a depender do empenho
dos cupins. Desbastada num canto balança
uma cadeira de tataravó que só
é boa na lembrança. Está como que ocupada,
oscilante entre lá e cá; um dia se vai toda
a cadeira, as portas, os móveis que não citei
a sala, por fim, me abandonará por completo.