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A sala

 

Há em mim uma sala abandonada

onde a poeira se sobressai, as luminárias

pendentes do absurdo, equilibram-se

para manter tudo como está: paredes

de um silêncio ruidoso pulverizam

de hora em hora o que não me deixa entrar;

perde-se entre galerias, a sala, 

coberta por tapetes Savonnerie, sobrevive

como um órgão vital quase sem fôlego

que projetasse na maca seus últimos suspiros

não por vontade própria, por piedadea alheia

a sala conduz o visitante para cada um dos lados

por uma porta, e cada porta tem uma cor

de morte diferente, podendo ser mais fúnebre

ou mais aguardada, a depender do empenho

dos cupins. Desbastada num canto balança

uma cadeira de tataravó que só 

é boa na lembrança. Está como que ocupada,

oscilante entre lá e cá; um dia se vai toda

a cadeira, as portas, os móveis que não citei

a sala, por fim, me abandonará por completo.

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