

Priscila Lopes
Talvez, muito provavelmente, escritora.
uns sorrisos e depois
Então ela lhe deu o primeiro sorriso. Estavam a alguma distância, e podiam comparar-se a outras pessoas. Não que procurassem nelas uma coisa que não tivessem - para invejar - ou o contrário, lhes causar qualquer tipo de ciúmes. Era apenas questão de reconhecer diferenças e semelhanças, gostar da vida assim, sem retrucar. Todos podiam ser. Era branco, e às vezes mudava de cor. Como bancos de praça. Como decks sobre o mar. Poltronas acenando na varanda de uma casa cor de giz azul. Parecia até um céu que lhes vestia. E ela lhe deu o segundo sorriso. Mais pontual, talvez dizendo. Não pedia nada ainda. Era o sorriso informante que vinha de algum vilarejo longínquo e pouco comentado, onde habitava a vida sem fazer alarde. Havia mais proximidade, e olhando em volta, podia-se notar um vaso de sete ervas encostado à porta da casa amarela; de resto, era só pensamento. Mas como um eco, aquilo se chegou assim sem encontrar nada, e aos poucos se foi. E ela lhe deu um terceiro sorriso. Cheio de possibilidades, lábios frágeis pedindo. Como um beija-flor que aparece à janela e para de súbito em frente à mulher que prepara o almoço. Sabia ela. Sempre soube, ali; agora um pouco mais. Almofadas forradas de um tecido verde cítrico e nuvens espalhadas pelo céu vão avisando, e ela aguarda. E depois, sobravam horas na tarde e dias no ano. Mas sempre havia aquele medo de acabar no fim - relógios de parede contemplam casas de família, até que morrem. E ela lhe deu um outro sorriso, e outro e outro e outro; e, desesperados, os sorrisos sobrepostos começaram a dançar, e a se propagar sem bloqueios até alcançar a multidão que até então apenas assistia, e todos começaram também a sorrir; um sorriso frenético que era riso só. E não explicava nem trazia nada. Então ela se pôs a chorar que não teve mais volta.